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segunda-feira, 7 de maio de 2012

Importa-se seleção: projeto social é esperança do Qatar para Copa 2022



Não é simples montar uma seleção no Qatar. Além da inexpressiva tradição no futebol, a população local é pequena. Dos cerca de 1,8 milhão de habitantes, aproximadamente 70% são estrangeiros ou filhos de imigrantes. Sede da Copa de 2022, o país promete um Mundial diferente de tudo o que já foi visto. Megaestruturas, luxo e até estádios com ar-condicionado para combater o calor que pode chegar a 50 graus. O que preocupa, porém, é a falta de talento com a bola nos pés.
Pensando nisso, o governo qatari adotou uma estratégia ousada e ambiciosa, mas um tanto quanto polêmica, para não fazer feio em casa. Criado pelo Ministério do Esporte do Qatar em 2004, a Aspire é ao mesmo tempo um projeto social e um centro de treinamento esportivo em excelência. A entidade recebe jovens do mundo todo – principalmente da África e do Oriente Médio – e oferece toda a estrutura possível para que possam desenvolver seu talento. Além de educação, os atletas têm à disposição cinco campos de futebol, ginásios, pista de atletismo, academia, piscina e treinadores gabaritados. Durante a preparação para o amistoso contra o Egito, por exemplo, em novembro do ano passado, a Seleção Brasileira treinou na base do projeto, em Doha.
- É uma coisa sem igual. Pessoas dos Estados Unidos, Europa, de países desenvolvidos vêm aqui e falam que nunca viram nada assim em termos de estrutura – elogiou o brasileiro Paulo Autuori, técnico da seleção do Qatar.
O local recebe atletas de várias modalidades, mas o futebol é o carro-chefe. Embora alguns, como Autuori, não vejam desse jeito, é nesse projeto que o Qatar aposta as suas fichas para formar uma seleção forte para a Copa de 2022.
- Existe um processo seletivo que começa nas escolas. No Brasil e na América do Sul, por exemplo, existem peneiras. No Senegal também tem uma base da Aspire. Eles trabalham todas as categorias, dos dez aos 21 anos. Após cinco anos, esses jogadores já têm direito a defender o Qatar. O objetivo maior é a Copa de 2022 – revelou o treinador Leonardo Vitorino, que trabalha nas divisões de base do clube Al Gharafa desde 2007.

Senegal é principal 'fornecedor'
É justamente do Senegal que o projeto recruta a maior parte dos jogadores. No mês passado, na Copa Mediterrâneo – torneio sub-20 disputado na Cataluña -, a Seleção Brasileira enfrentou a Aspire. Antes do jogo, o meia Adryan confundiu o adversário com a seleção africana.
- Logo mais jogo contra a seleção de Senegal (Aspire) – postou o meia do Flamengo no Twitter.
Adryan foi eleito o craque da competição, mas quem faturou o título foi a Aspire. E para se ter uma ideia do peso do torneio, além da Seleção Brasileira sub-20, Barcelona, Real Madrid, Manchester United, Inter de Milão, Liverpool e Porto, entre outros clubes europeus, disputaram a Copa Mediterrâneo. Dias depois, no entanto, a equipe brasileira goleou o time da Aspire por 6 a 0, em amistoso em Doha.
Técnico da Seleção sub-20, Ney Franco viu de perto o time da Aspire. Apesar de elogiar a estrutura e os jogadores, o treinador tem suas dúvidas quanto ao sucesso do projeto.
- Eles (Aspire) têm um trabalho de recrutamento de jogadores da África. Vale lembrar que o Qatar vai sediar a Copa de 2002, e esses jogadores podem ser naturalizados e jogar pela seleção. A maioria é africana. Acho um trabalho interessante, um projeto ambicioso. Estamos falando de um país como o Qatar. Não sei se vai dar certo. Estive lá, e eles têm profissionais da França, do Uruguai, do Brasil... Mas não sabemos se vingará da maneira como o pessoal do Qatar espera – analisou Ney Franco.

Descobridor de Messi trabalha para o projeto
Com dinheiro do petróleo sobrando, o governo do Qatar investe pesado na formação de atletas. A Aspire tirou do Barcelona um dos responsáveis por levar Lionel Messi para o clube catalão: Josep Colomer deixou a Espanha para virar o coordenador do projeto árabe. Além de Colomer, um fisiologista do Inter de Milão também seguiu para o Qatar. O brasileiro José Luiz de Moura, o Borracha, que defendeu o gol no Botafogo na década de 70, é preparador de goleiros no centro de treinamentos.
Campeão de três campeonatos nacionais no Qatar pelo Al Gharafa, entre 2009 e 2011, o treinador Caio Júnior acompanhou a Aspire de perto. Atual técnico do Al Jazira, dos Emirados Árabes, ele acredita que o projeto possa render bons frutos para a seleção local na Copa de 2022.
- A ideia é fantástica. O projeto é ambicioso. Eles trazem jogadores jovens e depois dão o passaporte. Eles têm ideias, têm dinheiro, mas o problema é a qualidade local. Por isso rodam o mundo, investem pesado e levam atletas para todas as categorias. Acho que vai dar resultado, principalmente pelo prazo (até a Copa de 2022).

"Nunca saiu um craque de lá", diz Autuori
Mas nem todos veem as Aspire como um projeto visionário para a Copa de 2022. Técnico da seleção principal e coordenador do time olímpico do Qatar, Paulo Autuori é um dos homens mais respeitados no futebol qatari. No país desde 2007, com uma rápida passagem pelo Grêmio em 2009, o brasileiro elogia o projeto, mas revela outro ponto de vista em relação à Aspire.
- A idéia é excelente, já que sei da grande dificuldade que é formar uma seleção com jogadores nascidos no Qatar. Mas já falaram até em tráfico de crianças. É um absurdo, não tem nada disso… Os garotos que são realmente bons não vêm para o Oriente Médio. Eles vão para a Europa ou, no caso dos brasileiros, permanecem no país. Não tem nenhum brasileiro na Aspire. Já temos alguns jogadores da Aspire aproveitados na seleção do Qatar. São bons jogadores, mas nunca saiu um craque de lá. E nem todos se naturalizam. Aqui o projeto até sofre algumas críticas. O fato da Aspire recrutar jovens atletas, oferecer a estrutura e formar jogadores para outras seleções é questionado. Muitos vêm para cá quando jovens e, quando profissionais, defendem a seleção de seu país - contou Autuori.
Mas não são somente atletas estrangeiros que integram a Aspire. Os melhores jogadores do Qatar, quando jovens, são recrutados para o projeto. Quem se destaca nas divisões de base dos times do país é convocado para o centro de treinamento. Eles seguem vinculados aos clubes, mas passam a maior parte do tempo no centro de treinamento.
- Tinha problemas com isso. Eles (Aspire) dificultavam para os clubes. Quando surgia um menino na base, eu queria lançar, mas eles passavam mais tempo na Aspire do que no clube. Foi bem difícil lançar jogadores no Al Gharafa em função disso – lembrou Caio Júnior.
A prática de tentar naturalizar estrangeiros para fortalecer a seleção do Qatar não é nova. Em 2004, o atacante Aílton e o lateral-esquerdo Dedê, que fizeram sucesso na Alemanha, foram contratados pela Federação de Futebol do Qatar para defender o país nas eliminatórias da Copa do Mundo de 2006. No entanto, a Fifa vetou, e o os brasileiros não jogaram pela seleção do Oriente Médio.
O atacante Emerson “Sheik”, atualmente no Corinthians, defendeu a seleção do Qatar em três jogos pelas eliminatórias da Copa do Mundo de 2010. Atualmente, o meia brasileiro Fábio César Montezine joga pela seleção treinada por Autuori.

Fonte: Globo Esporte.com

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