As histórias do XV de Piracicaba e de Rubens Braga se confundem há sete décadas. Ele já foi de tudo no clube: torcedor - quando a equipe ainda era amadora -, preparador físico, técnico e conselheiro. Acompanhou ainda, de perto, a construção do estádio Barão de Serra Negra. Quis o destino, ainda que ao acaso, que, aos 82 anos, ele atingisse o cargo máximo no clube: desde o último dia 28, Braga é o presidente do clube.
A oportunidade de assumir o clube, que enche o “vovô” de orgulho, ocorreu após o afastamento temporário de Luis Beltrame, que irá concorrer ao cargo de vereador no município. Braga fica à frente do Nhô Quim até o dia 8 de outubro e, durante os quatro meses de trabalho, já adiantou que não fará mudanças bruscas na administração e que não tem intenção de permanecer na diretoria após o período. Ajudar o clube, contudo, é algo inerente a Braga e, apesar da idade avançada, uma separação total nem passa pela sua cabeça.- Minha vida inteira foi dedicada ao esporte e, sobretudo, ao XV. E, agora como presidente, me torno também conselheiro vitalício. Então sempre que pedirem minha opinião irei contribuir. Mas a esposa já está cobrando mais presença em casa, ela tem ficado muito sozinha – diz.
Quando Braga nasceu, em 1929, o XV de Piracicaba ainda engatinhava no esporte. O clube, fundado em 1913, se tornou profissional apenas em 1947. Antes, no entanto, já despertava a curiosidade do menino Rubens. Suas primeiras lembranças remetem a 1941. Então com 12 anos, o estudante ganhava da mãe, aos fins de semana, uma mesada para assistir ao time ou ir ao cinema. Com um jeitinho peculiar, o garoto dava um jeito de fazer as duas atividades.
- Adorava ir ao cinema, mas queria ver o jogo também. O amador era muito disputado, com grandes equipes. O antigo campo do XV tinha uns buracos na tela, não era nem alambrado. Então eu e o resto da molecada ficava do lado de fora, na rua, esperando a bola sair. Quem pegava, entrava para devolver e acabava assistindo ao jogo. A gente até combinava com o goleiro para espalmar a bola para o lado que tinha o buraco – se diverte Braga.
Faz tudo
Os jogos no campeonato amador foram apenas o pontapé para a ligação entre Braga e o XV. Aos 18 anos, ele deixou a cidade para estudar Educação Física na USP, em São Paulo (anos depois, ajudaria a fundar a primeira faculdade de Educação Física em Piracicaba, na Unimep). Foram dez anos na capital, o que lhe rendeu uma experiência no vôlei - atuou como levantador no tradicional Pinheiros, entre outros clubes -, e um emprego no Departamento de Educação Física (DEF) do Estado de São Paulo.
Em 1958, já casado, Braga teve a oportunidade de retornar à cidade natal, com a criação de um diretório regional do departamento. Em Piracicaba, ampliou seu vínculo com o esporte: foi técnico, preparador físico e diretor de quase todas as modalidades – atletismo, futebol, basquete, vôlei e handebol.
Em 1962, foi contratado para ser o técnico do XV de Piracicaba. A estreia foi no dia 11 de março, em um amistoso contra o Palmeiras, de Santa Bárbara d´Oeste. O Nhô Quim venceu por 5 a 1. Braga ainda foi o comandante da equipe em outras duas oportunidades: em 1965 e em 1971.
- Eu fui bem até, teve uma época que ficamos um bom tempo invictos. Sempre falaram que eu era pé-quente. Mas sabe como é né, perdia três jogos e já trocavam o treinador – diz o agora presidente, em posição de pedra na relação pedra / vidraça.
Braga também se envolveu no mundo político. Dentro e fora do XV. Foi vereador em três oportunidades e participou da comissão que fiscalizou as obras do estádio Barão de Serra Negra, inaugurado em 1965. Em 1972, foi vice-presidente do clube pela primeira vez, na gestão de Gustavo Jacques Dias Alvim.
- Naquela época cheguei a assumir o clube algumas vezes, porque o presidente viajava muito. Às vezes eu ficava 10, 15 dias como presidente efetivo.
Nas décadas seguintes, seguiu como conselheiro do clube, mas dedicou a maior parte do tempo a outros esportes. O basquete passou a ser sua maior paixão. De “jogador frustrado” na juventude, se transformou em um dedicado ala já na velhice. Hoje faz parte da seleção paulista de masters e viaja o Brasil com a equipe. Para manter a forma, treina duas vezes por semana, além de caminhadas diárias. O amor ao esporte também rendeu um livro, com a história do basquete em Piracicaba. O primeiro volume já foi publicado. Outros dois estão no forno. Detalhe: tudo é escrito à máquina. Braga não é afeito às “modernidades”.
- Celular eu tenho, mas nem sei o número. Computador não chego perto. Prefiro a máquina. E aprendi a digitar na marra, catando as letrinhas. Depois o pessoal da editora faz a revisão e faz a impressão.
A aversão ao mundo moderno gera até um certo desconforto com a última novidade do XV. Braga desconversa, mas não é um entusiasta do ‘navio do centenário’. Em novembro, um navio temático irá percorrer a costa brasileira para comemorar os 100 anos do clube.
- Isto ai é o pessoal do marketing que bolou. Minha esposa não gosta. Sozinho eu não vou.
Braga segue seu ritmo. E, mesmo sem acompanhar as novas tecnologias, segue lado a lado com o esporte. O casamento é para a vida toda.
Fonte: Globo Esporte.com
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